Cartas a meus Amigos: diferenças entre revisões

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=Explicação=
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O título completo do volume é “Cartas aos meus amigos sobre a crise social e pessoal no momento atual”.


= Conferência autor=
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Centro Cultural Estación Mapocho. Santiago, Chile. 14 de Maio de 1994.
Agradeço às instituições organizadoras deste Primeiro Encontro da Cultura Humanista o convite que oportunamente me enviaram para apresentar o livro, de edição chilena, “Cartas aos Meus Amigos”. Agradeço as palavras pronunciadas por Luis Felipe García em representação de Virtual Ediciones.
Agradeço a intervenção de Volodia Teitelboim, a quem gostaria de responder futuramente e comentar, com o detalhe que merecem, muitos dos brilhantes conceitos que expressou nesta ocasião.
Agradeço a presença de destacadas personalidades da cultura, dos meios de comunicação social e, evidentemente, dos numerosos amigos que hoje nos acompanham.
Nesta breve exposição, gostaria de ambientar o livro que hoje se lança publicamente, destacando que não se trata de uma obra sistemática, mas sim de uma série de comentários apresentados no conhecido, e tantas vezes utilizado, estilo epistolar. Desde as “epístolas morais” de Sêneca, chegou até hoje uma farragem de exposições que se disseminaram pelo mundo e que tiveram, com certeza, uma influência e interesse díspares. Hoje, são já muito conhecidas as “cartas abertas” que, ainda que pareçam dirigidas a uma pessoa, uma instituição ou um governo, estão escritas com a intenção de chegar mais além do destinatário explícito, quer dizer, com a intenção de chegar aos grandes públicos. Foi neste último sentido que se pensou o nosso presente trabalho. O título completo do volume é “Cartas aos meus amigos sobre a crise social e pessoal no momento atual”. Quem são estes “amigos” a quem se dirigem as cartas? São, sem dúvida, aquelas pessoas que coincidem ou diferem da nossa postura ideológica, mas que, em todos os casos, o fazem com a genuína intenção de alcançar uma maior compreensão e uma melhor adequação da ação para superar a crise que estamos a viver. Isso quanto ao destinatário. Quanto à temática, não se deixou de destacar o campo de crise no qual se inscrevem tanto as sociedades como os indivíduos. Consideramos o conceito de crise no seu sentido mais habitual de final de um acontecer que se resolve numa ou noutra direção. A “crise” faz sair de uma situação e entrar noutra nova que levanta os seus próprios problemas. Entende-se popularmente a “crise” como uma fase perigosa da qual pode resultar algo benéfico ou pernicioso para as entidades que a experimentam e estas entidades são, neste caso, a sociedade e os indivíduos. Para alguns, é redundante considerar os indivíduos uma vez que estes já são implicados ao falar-se de sociedade, mas do nosso ponto de vista isto não é correto e a pretensão de fazer desaparecer um dos termos se apóia numa análise que não partilhamos. Com isto, dou por concluído o comentário sobre o título do livro.
Ora bem, a ordem razoável do discurso indica que se deveria entrar no tema com o estudo dos conteúdos da obra. No entanto, preferiríamos não seguir essa seqüência escolar, mas antes adentrar-nos nas intenções que determinaram toda esta produção. Estas intenções consistem em recolher o pensamento do Novo Humanismo e verter o seu ditame sobre a situação que nos cabe viver. O Novo Humanismo está a advertir para a crise geral da civilização e está a propor umas medidas mínimas a tomar para superar esta crise. O Novo Humanismo está consciente do apocalipsismo de final de século e de final de milênio de acordo com o que ensina a História. Bem sabemos que nestas conjunturas epocais se levantam as vozes de quem proclama o fim do mundo e que, traduzidas a diverso folclore, assinalam o fim do ecossistema, ou o fim da História, ou o fim das ideologias, ou o fim do ser humano apanhado pela máquina, etc. Nada disto sustenta o Novo Humanismo, que diz simplesmente: “Hei, amigos, há que mudar o rumo!” Ninguém quer ouvir-nos? Estamos equivocados? Tanto melhor; se estamos equivocados é porque as coisas avançam por um caminho justo e vamos percorrendo a via para o Paraíso na Terra. Alguns estruturalistas nos dirão que a crise atual é uma simples reacomodação do sistema, um reordenamento necessário de fatores num sistema que continua a realimentar o progresso; alguns pós-modernistas afirmarão que simplesmente se desajustou o relato do século XIX e que os “decisores” sociais estão a oferecer um incremento de poder e de pacificação graças à transparência tecnológica e comunicacional. Ah, bem, amigos!, podemos descansar confiando que a Nova Ordem se encarregará de pacificar o mundo. Não mais Iugoslávias, Oriente Médio, Burundi ou Sri Lanka. Não mais fome, não mais 80% da população mundial no limiar e abaixo do limiar de subsistência. Não mais recessão, não mais demissões, não mais destruição das fontes de trabalho. Agora sim, administrações cada vez mais limpas, taxas de escolaridade e de educação crescentes, diminuição da delinqüência e da insegurança dos cidadãos, diminuição do alcoolismo e da toxicodependência... Em suma, conformidade e felicidade crescentes para todos. Isso está bem, amigos. Sejamos pacientes, o Paraíso está próximo!... Mas se isto não fosse assim, se a situação atual continuasse a se deteriorar ou se se perdesse o controle, quais seriam as alternativas a seguir?
É esse o discurso das “Cartas aos meus amigos”. E não cremos que seja ofensivo considerar, a modo de tímida opinião, a possibilidade de que aconteça um penoso desenlace. Ninguém se ofende com o fato de os edifícios contarem com as suas escadas de emergência, os cinemas e os lugares de reunião pública estarem apetrechados com extintores, com saídas de emergência; ninguém protesta por os estádios desportivos se verem obrigados a habilitar portões de saída suplementares. E, evidentemente, quando se vai ao cinema ou se entra num edifício, não se está a pensar em incêndios ou catástrofes, porque tudo se entende no contexto da prudência. Se não se incendeia o edifício, nem o cinema, nem se produz a desordem no estádio, tanto melhor!
Na sexta Carta abriga-se o Documento dos Humanistas, no qual estes expõem as suas idéias mais gerais, a sua alternativa à crise. Não é um Documento desmancha-prazeres, não é um ideário pessimista, é uma exposição sobre a crise e uma apresentação de alternativas. Ao lê-lo, mesmo aqueles que não estivessem de acordo deveriam dizer: “Bem, é uma alternativa. Devemos cuidar destes rapazes, as sociedades necessitam de escadas de emergência. Não são nossos inimigos, são a voz da sobrevivência”.
O Documento dos Humanistas, que a sexta Carta recolhe, nos diz: “Os humanistas põem à frente a questão do trabalho face ao grande capital; a questão da democracia real face à democracia formal; a questão da descentralização face à centralização; a questão da antidiscriminação face à discriminação; a questão da liberdade face à opressão; a questão do sentido da vida face à resignação, à cumplicidade e ao absurdo... Os humanistas são internacionalistas, aspiram a uma nação humana universal. Compreendem globalmente o mundo em que vivem e atuam no seu meio imediato. Não desejam um mundo uniforme, mas sim múltiplo: nas etnias, línguas e costumes; nas localidades, nas regiões e nas autonomias; nas idéias e nas aspirações; nas crenças, no ateísmo e na religiosidade; no trabalho; na criatividade. Os humanistas não querem amos; não querem dirigentes nem chefes, nem se sentem representantes nem chefes de ninguém...” E, no final do Documento, conclui-se: “Os humanistas não são ingênuos nem se aficionam com declarações de épocas românticas. Nesse sentido, não consideram as suas propostas como a expressão mais avançada da consciência social, nem pensam a sua organização em termos indiscutíveis. Os humanistas não fingem ser representantes das maiorias. Em todo o caso, atuam de acordo com o seu parecer mais justo apontando às transformações que crêem mais adequadas e possíveis neste momento que lhes cabe viver”.
Não está plasmado neste Documento um forte sentimento de liberdade, de pluralismo, de autolimitação? A isso bem se pode chamar proposta alternativa e de nenhuma maneira proposta avassaladora, uniformizadora e absoluta.
E como é este processo de crise? Para onde aponta? Nas diversas cartas exemplifica-se sobre um mesmo modelo. O modelo de sistema fechado. Este começou quando surgiu o Capitalismo. A Revolução Industrial foi-o potenciando. Os Estados nacionais, nas mãos de uma burguesia cada vez mais poderosa, começaram a disputar entre si o mundo. As antigas colônias passaram das cabeças coroadas para as mãos das companhias privadas. E o Banco Mundial começou a sua tarefa de intermediação, de endividamento de terceiros e de apoderamento das fontes de produção. Logo o Banco Mundial financiou as campanhas militares das burguesias ambiciosas, emprestou e endividou as partes em conflito e quase sempre saiu ganhando de todo o conflito. Quando as burguesias nacionais ainda concebiam o crescimento em termos de exploração inclemente da classe trabalhadora, em termos de crescimento industrial, em termos de comércio, referenciando sempre como centro de gravidade o próprio país que manejavam, já o Banco Mundial tinha saltado por cima das limitações administrativas do Estado nacional. Chegaram as revoluções socialistas, o crack da Bolsa e as reacomodações dos centros financeiros, mas estes continuaram em crescimento e concentração. Depois do último suspiro nacionalista das burguesias industriais, depois do último conflito mundial, ficou claro que o mundo era um só, que as regiões, os países e os continentes ficavam ligados e que a indústria necessitava do capital financeiro internacional para sobreviver. O Estado nacional começou já a ser um estorvo para a circulação de capitais, bens, serviços, pessoas e produtos mundializados. Começou a regionalização. E com isso a antiga ordem começou a se desestruturar. O velho proletariado, que a seu tempo era a base da pirâmide social enraizada nas indústrias extrativas primárias e que pouco a pouco passou a fazer parte dos regimentos de trabalhadores industriais, começou a perder uniformidade. As indústrias secundárias e terciárias, os serviços cada vez mais sofisticados foram absorvendo mão-de-obra numa reconversão contínua dos fatores de produção. Os antigos grêmios e sindicatos perderam poder de classe, direcionando-se para reivindicações imediatas de tipo salarial e ocupacional. A revolução tecnológica provocou novas acelerações num mundo díspar, no qual vastas regiões postergadas se afastavam cada vez mais dos centros de decisão. Essas regiões colonizadas, espoliadas e destinadas a ocupar sectores de abastecimento bruto na divisão internacional do trabalho vendiam sua produção a um preço cada vez mais barato e pagavam cada vez mais pela tecnologia necessária ao seu desenvolvimento. Entretanto, as dívidas contraídas para seguir o modelo de desenvolvimento imposto continuavam a crescer. Chegou o momento em que as empresas precisavam se flexibilizar, se descentralizar, se agilizar e competir. Tanto no mundo capitalista como no socialista, as estruturas rígidas começaram a rachar ao mesmo tempo em que se impunham despesas cada vez mais sufocantes para manter em crescimento os complexos militar-industriais. Sobrevém, então, um dos momentos mais críticos da História humana. E é ali, do campo socialista, que começa o desarmamento unilateral. Só a História futura poderá determinar se aquilo foi um erro ou foi, precisamente, o que salvou o nosso mundo do holocausto nuclear. Toda esta seqüência é fácil de reconhecer. E assim chegamos a um mundo em que a concentração do poder financeiro mantém prostrada toda a indústria, todo o comércio, toda a política, todo o país, todo o indivíduo. Começa a etapa do sistema fechado e num sistema fechado não resta alternativa outra que a sua desestruturação. Nesta perspectiva, a desestruturação do campo socialista aparece como o prelúdio da desestruturação mundial que se acelera vertiginosamente.
Este é o momento de crise em que estamos situados. Mas a crise tende a ser resolvida em diversas variantes. Por simples economia de hipóteses e, além disso, para exemplificar a traços largos, nas Cartas esboçam-se duas possibilidades. Por um lado, a variante da entropia dos sistemas fechados e, por outro lado, a variante da abertura de um sistema fechado mercê da ação não natural, mas sim intencional do ser humano. Vejamos a primeira matizada com um certo pictoricismo descritivo.
É altamente provável a consolidação de um império mundial que tenderá a homogeneizar a economia, o Direito, as comunicações, os valores, a língua, os usos e costumes. Um império mundial instrumentalizado pelo capital financeiro internacional que não haverá de reparar sequer nas próprias populações dos centros de decisão. E nessa saturação, o tecido social continuará o seu processo de decomposição. As organizações políticas e sociais, a administração do Estado, serão ocupadas pelos tecnocratas ao serviço de um monstruoso Paraestado que tenderá a disciplinar as populações com medidas cada vez mais restritivas à medida que a decomposição se acentue. O pensamento terá perdido a sua capacidade abstrativa substituído por uma forma de funcionamento analítico e passo a passo segundo o modelo computacional. Ter-se-á perdido a noção de processo e estrutura, resultando disso simples estudos de lingüística e análise formal. A moda, a linguagem e os estilos sociais, a música, a arquitetura, as artes plásticas e a literatura acabarão desestruturadas e, em todo o caso, ver-se-á a mistura de estilos em todos os campos como um grande avanço, tal como ocorreu noutras ocasiões da História com os ecletismos da decadência imperial. Então, a antiga esperança de uniformizar tudo nas mãos de um mesmo poder desvanecer-se-á para sempre. Neste obscurecimento da razão, nesta fadiga dos povos ficará o campo livre para os fanatismos de toda espécie, para a negação da vida, o culto do suicídio, o fundamentalismo descarnado. Já não haverá ciência nem grandes revoluções do pensamento... Só tecnologia que nessa altura será chamada “Ciência”. Ressurgirão os localismos, as lutas étnicas e os povos postergados abalançar-se-ão sobre os centros de decisão num turbilhão em que as macrocidades, anteriormente superpovoadas, ficarão desabitadas. Contínuas guerras civis sacudirão este pobre planeta no qual não desejaremos viver.
Enfim, esta é a parte do conto que se tem repetido em numerosas civilizações que, num dado momento, acreditaram no seu progresso infinito. Todas essas culturas terminaram na dissolução, mas, afortunadamente, quando umas caíram, noutros pontos erigiram—se novos impulsos humanos e, nessa alternância, o velho foi superado pelo novo. É claro que num sistema mundial fechado não sobra espaço para o surgimento de outra civilização, mas sim para uma longa e escura idade média mundial.
Se o que se perspectiva nas cartas com base no modelo explicado é de todo incorreto, não temos razão para nos preocuparmos. Se, ao invés, o processo mecânico das estruturas históricas leva a direção comentada, é hora de se perguntar como pode o ser humano mudar a direção dos acontecimentos. Por sua vez, quem poderia produzir essa formidável mudança de direção senão os povos que são, precisamente, o sujeito da História? Teremos chegado a um estado de maturidade suficiente para compreender que a partir de agora não haverá progresso se não for de todos e para todos? Esta é a segunda hipótese que se explora nas Cartas.
Se encarna nos povos a idéia de que (e é bom repeti-lo) não haverá progresso se não for de todos e para todos, então a luta será clara. No último escalão da desestruturação, na base social, começarão a soprar os novos ventos. Nos bairros, nas comunidades de vizinhos, nos locais de trabalho mais humildes o tecido social começará a se regenerar. Este será, aparentemente, um fenômeno espontâneo. Repetir-se-á no surgimento de múltiplas agrupações de base que formarão os trabalhadores já libertos da tutela das cúpulas sindicais. Aparecerão numerosos agrupamentos políticos, sem organização central, em luta com as organizações políticas cupulares. Começará a discussão em cada fábrica, em cada escritório, em cada empresa. A partir das reivindicações imediatistas, ir-se-á ganhando consciência da situação mais ampla, na qual o trabalho terá mais valor humano que o capital e na qual o risco do trabalho será mais claro que o risco do capital na hora de considerar prioridades. Chegar-se-á facilmente à conclusão de que o lucro da empresa deve ser reinvestido na abertura de novas fontes de trabalho ou derivar para outros setores nos quais a produção continue a aumentar em vez de derivar para franjas especulativas que acabam por engrossar o capital financeiro, que produzem esvaziamento empresarial e que levam à posterior quebra do aparelho produtivo. O empresário começará a dar-se conta de que se converteu em simples empregado do Banco Mundial e que, nesta emergência, o seu aliado natural é o trabalhador. O fermento social começará novamente a ativar-se e desencadear-se-á a luta clara e franca entre o capital especulativo, no seu nítido caráter de força abstrata e desumana, e as forças do trabalho, verdadeira alavanca da transformação do mundo. Começará a compreender-se de uma vez por todas que o progresso não depende da dívida que se contrai junto dos bancos, mas sim que os bancos devem atribuir créditos à empresa sem cobrar juros. E também se tornará claro que não haverá forma de descongestionar a concentração que conduz ao colapso se não é mediante uma redistribuição da riqueza a favor das áreas postergadas. A Democracia real, plebiscitária e direta será uma necessidade porque se quererá sair da agonia da não-participação e da ameaça constante da revolta popular. Os poderes serão reformados porque a estrutura da democracia formal dependente do capital financeiro já terá perdido toda a credibilidade e todo o significado. Este segundo momento de crise apresentar-se-á, sem dúvida, depois de um período de incubação em que os problemas se agravarão. Então, começará essa série de avanços e retrocessos em que cada êxito será multiplicado como efeito de demonstração nos lugares mais remotos graças às comunicações instantâneas. Nem sequer se tratará da conquista dos Estados nacionais, mas sim de uma situação mundial em que se irão multiplicando estes fenômenos sociais antecessores de uma mudança radical na direção dos acontecimentos. Deste modo, em vez do processo desembocar no colapso mecânico tantas vezes repetido, a vontade de mudança e de direção dos povos começará a percorrer o caminho rumo à nação humana universal.
É nesta segunda possibilidade, é nesta segunda alternativa que apostam os humanistas de hoje. Têm demasiada fé no ser humano para crer que tudo terminará estupidamente. E ainda que não se sintam a vanguarda do processo humano, dispõem-se a acompanhar esse processo na medida das suas forças e ali onde estejam posicionados.
Não quero tomar mais tempo a comentar o livro que hoje temos nas nossas mãos. Desejaria somente reconhecer a paciência e a tolerância que vocês mostraram ao seguir esta cansativa exposição.


=Edições=
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Foi publicado em...
Foi publicado em Chile por Virtual Edicciones, 1993; em Argentina por Centaurus Ediciones, 1993; em México por Plaza y Valdés, 1995; em italiano por Multi Image em 1994 e por Multimage em 2000 y 2006; em francés por Editions Références em 2004; en inglés por Latitude Press, 1993.


=Traduções=
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Edição atual desde as 09h03min de 1 de dezembro de 2017

Livro de Silo. Escrito em espanhol em 1993.

Explicação

O título completo do volume é “Cartas aos meus amigos sobre a crise social e pessoal no momento atual”.

Conferência autor

Centro Cultural Estación Mapocho. Santiago, Chile. 14 de Maio de 1994.


Agradeço às instituições organizadoras deste Primeiro Encontro da Cultura Humanista o convite que oportunamente me enviaram para apresentar o livro, de edição chilena, “Cartas aos Meus Amigos”. Agradeço as palavras pronunciadas por Luis Felipe García em representação de Virtual Ediciones.

Agradeço a intervenção de Volodia Teitelboim, a quem gostaria de responder futuramente e comentar, com o detalhe que merecem, muitos dos brilhantes conceitos que expressou nesta ocasião.

Agradeço a presença de destacadas personalidades da cultura, dos meios de comunicação social e, evidentemente, dos numerosos amigos que hoje nos acompanham.

Nesta breve exposição, gostaria de ambientar o livro que hoje se lança publicamente, destacando que não se trata de uma obra sistemática, mas sim de uma série de comentários apresentados no conhecido, e tantas vezes utilizado, estilo epistolar. Desde as “epístolas morais” de Sêneca, chegou até hoje uma farragem de exposições que se disseminaram pelo mundo e que tiveram, com certeza, uma influência e interesse díspares. Hoje, são já muito conhecidas as “cartas abertas” que, ainda que pareçam dirigidas a uma pessoa, uma instituição ou um governo, estão escritas com a intenção de chegar mais além do destinatário explícito, quer dizer, com a intenção de chegar aos grandes públicos. Foi neste último sentido que se pensou o nosso presente trabalho. O título completo do volume é “Cartas aos meus amigos sobre a crise social e pessoal no momento atual”. Quem são estes “amigos” a quem se dirigem as cartas? São, sem dúvida, aquelas pessoas que coincidem ou diferem da nossa postura ideológica, mas que, em todos os casos, o fazem com a genuína intenção de alcançar uma maior compreensão e uma melhor adequação da ação para superar a crise que estamos a viver. Isso quanto ao destinatário. Quanto à temática, não se deixou de destacar o campo de crise no qual se inscrevem tanto as sociedades como os indivíduos. Consideramos o conceito de crise no seu sentido mais habitual de final de um acontecer que se resolve numa ou noutra direção. A “crise” faz sair de uma situação e entrar noutra nova que levanta os seus próprios problemas. Entende-se popularmente a “crise” como uma fase perigosa da qual pode resultar algo benéfico ou pernicioso para as entidades que a experimentam e estas entidades são, neste caso, a sociedade e os indivíduos. Para alguns, é redundante considerar os indivíduos uma vez que estes já são implicados ao falar-se de sociedade, mas do nosso ponto de vista isto não é correto e a pretensão de fazer desaparecer um dos termos se apóia numa análise que não partilhamos. Com isto, dou por concluído o comentário sobre o título do livro.

Ora bem, a ordem razoável do discurso indica que se deveria entrar no tema com o estudo dos conteúdos da obra. No entanto, preferiríamos não seguir essa seqüência escolar, mas antes adentrar-nos nas intenções que determinaram toda esta produção. Estas intenções consistem em recolher o pensamento do Novo Humanismo e verter o seu ditame sobre a situação que nos cabe viver. O Novo Humanismo está a advertir para a crise geral da civilização e está a propor umas medidas mínimas a tomar para superar esta crise. O Novo Humanismo está consciente do apocalipsismo de final de século e de final de milênio de acordo com o que ensina a História. Bem sabemos que nestas conjunturas epocais se levantam as vozes de quem proclama o fim do mundo e que, traduzidas a diverso folclore, assinalam o fim do ecossistema, ou o fim da História, ou o fim das ideologias, ou o fim do ser humano apanhado pela máquina, etc. Nada disto sustenta o Novo Humanismo, que diz simplesmente: “Hei, amigos, há que mudar o rumo!” Ninguém quer ouvir-nos? Estamos equivocados? Tanto melhor; se estamos equivocados é porque as coisas avançam por um caminho justo e vamos percorrendo a via para o Paraíso na Terra. Alguns estruturalistas nos dirão que a crise atual é uma simples reacomodação do sistema, um reordenamento necessário de fatores num sistema que continua a realimentar o progresso; alguns pós-modernistas afirmarão que simplesmente se desajustou o relato do século XIX e que os “decisores” sociais estão a oferecer um incremento de poder e de pacificação graças à transparência tecnológica e comunicacional. Ah, bem, amigos!, podemos descansar confiando que a Nova Ordem se encarregará de pacificar o mundo. Não mais Iugoslávias, Oriente Médio, Burundi ou Sri Lanka. Não mais fome, não mais 80% da população mundial no limiar e abaixo do limiar de subsistência. Não mais recessão, não mais demissões, não mais destruição das fontes de trabalho. Agora sim, administrações cada vez mais limpas, taxas de escolaridade e de educação crescentes, diminuição da delinqüência e da insegurança dos cidadãos, diminuição do alcoolismo e da toxicodependência... Em suma, conformidade e felicidade crescentes para todos. Isso está bem, amigos. Sejamos pacientes, o Paraíso está próximo!... Mas se isto não fosse assim, se a situação atual continuasse a se deteriorar ou se se perdesse o controle, quais seriam as alternativas a seguir?

É esse o discurso das “Cartas aos meus amigos”. E não cremos que seja ofensivo considerar, a modo de tímida opinião, a possibilidade de que aconteça um penoso desenlace. Ninguém se ofende com o fato de os edifícios contarem com as suas escadas de emergência, os cinemas e os lugares de reunião pública estarem apetrechados com extintores, com saídas de emergência; ninguém protesta por os estádios desportivos se verem obrigados a habilitar portões de saída suplementares. E, evidentemente, quando se vai ao cinema ou se entra num edifício, não se está a pensar em incêndios ou catástrofes, porque tudo se entende no contexto da prudência. Se não se incendeia o edifício, nem o cinema, nem se produz a desordem no estádio, tanto melhor!

Na sexta Carta abriga-se o Documento dos Humanistas, no qual estes expõem as suas idéias mais gerais, a sua alternativa à crise. Não é um Documento desmancha-prazeres, não é um ideário pessimista, é uma exposição sobre a crise e uma apresentação de alternativas. Ao lê-lo, mesmo aqueles que não estivessem de acordo deveriam dizer: “Bem, é uma alternativa. Devemos cuidar destes rapazes, as sociedades necessitam de escadas de emergência. Não são nossos inimigos, são a voz da sobrevivência”.

O Documento dos Humanistas, que a sexta Carta recolhe, nos diz: “Os humanistas põem à frente a questão do trabalho face ao grande capital; a questão da democracia real face à democracia formal; a questão da descentralização face à centralização; a questão da antidiscriminação face à discriminação; a questão da liberdade face à opressão; a questão do sentido da vida face à resignação, à cumplicidade e ao absurdo... Os humanistas são internacionalistas, aspiram a uma nação humana universal. Compreendem globalmente o mundo em que vivem e atuam no seu meio imediato. Não desejam um mundo uniforme, mas sim múltiplo: nas etnias, línguas e costumes; nas localidades, nas regiões e nas autonomias; nas idéias e nas aspirações; nas crenças, no ateísmo e na religiosidade; no trabalho; na criatividade. Os humanistas não querem amos; não querem dirigentes nem chefes, nem se sentem representantes nem chefes de ninguém...” E, no final do Documento, conclui-se: “Os humanistas não são ingênuos nem se aficionam com declarações de épocas românticas. Nesse sentido, não consideram as suas propostas como a expressão mais avançada da consciência social, nem pensam a sua organização em termos indiscutíveis. Os humanistas não fingem ser representantes das maiorias. Em todo o caso, atuam de acordo com o seu parecer mais justo apontando às transformações que crêem mais adequadas e possíveis neste momento que lhes cabe viver”.

Não está plasmado neste Documento um forte sentimento de liberdade, de pluralismo, de autolimitação? A isso bem se pode chamar proposta alternativa e de nenhuma maneira proposta avassaladora, uniformizadora e absoluta.

E como é este processo de crise? Para onde aponta? Nas diversas cartas exemplifica-se sobre um mesmo modelo. O modelo de sistema fechado. Este começou quando surgiu o Capitalismo. A Revolução Industrial foi-o potenciando. Os Estados nacionais, nas mãos de uma burguesia cada vez mais poderosa, começaram a disputar entre si o mundo. As antigas colônias passaram das cabeças coroadas para as mãos das companhias privadas. E o Banco Mundial começou a sua tarefa de intermediação, de endividamento de terceiros e de apoderamento das fontes de produção. Logo o Banco Mundial financiou as campanhas militares das burguesias ambiciosas, emprestou e endividou as partes em conflito e quase sempre saiu ganhando de todo o conflito. Quando as burguesias nacionais ainda concebiam o crescimento em termos de exploração inclemente da classe trabalhadora, em termos de crescimento industrial, em termos de comércio, referenciando sempre como centro de gravidade o próprio país que manejavam, já o Banco Mundial tinha saltado por cima das limitações administrativas do Estado nacional. Chegaram as revoluções socialistas, o crack da Bolsa e as reacomodações dos centros financeiros, mas estes continuaram em crescimento e concentração. Depois do último suspiro nacionalista das burguesias industriais, depois do último conflito mundial, ficou claro que o mundo era um só, que as regiões, os países e os continentes ficavam ligados e que a indústria necessitava do capital financeiro internacional para sobreviver. O Estado nacional começou já a ser um estorvo para a circulação de capitais, bens, serviços, pessoas e produtos mundializados. Começou a regionalização. E com isso a antiga ordem começou a se desestruturar. O velho proletariado, que a seu tempo era a base da pirâmide social enraizada nas indústrias extrativas primárias e que pouco a pouco passou a fazer parte dos regimentos de trabalhadores industriais, começou a perder uniformidade. As indústrias secundárias e terciárias, os serviços cada vez mais sofisticados foram absorvendo mão-de-obra numa reconversão contínua dos fatores de produção. Os antigos grêmios e sindicatos perderam poder de classe, direcionando-se para reivindicações imediatas de tipo salarial e ocupacional. A revolução tecnológica provocou novas acelerações num mundo díspar, no qual vastas regiões postergadas se afastavam cada vez mais dos centros de decisão. Essas regiões colonizadas, espoliadas e destinadas a ocupar sectores de abastecimento bruto na divisão internacional do trabalho vendiam sua produção a um preço cada vez mais barato e pagavam cada vez mais pela tecnologia necessária ao seu desenvolvimento. Entretanto, as dívidas contraídas para seguir o modelo de desenvolvimento imposto continuavam a crescer. Chegou o momento em que as empresas precisavam se flexibilizar, se descentralizar, se agilizar e competir. Tanto no mundo capitalista como no socialista, as estruturas rígidas começaram a rachar ao mesmo tempo em que se impunham despesas cada vez mais sufocantes para manter em crescimento os complexos militar-industriais. Sobrevém, então, um dos momentos mais críticos da História humana. E é ali, do campo socialista, que começa o desarmamento unilateral. Só a História futura poderá determinar se aquilo foi um erro ou foi, precisamente, o que salvou o nosso mundo do holocausto nuclear. Toda esta seqüência é fácil de reconhecer. E assim chegamos a um mundo em que a concentração do poder financeiro mantém prostrada toda a indústria, todo o comércio, toda a política, todo o país, todo o indivíduo. Começa a etapa do sistema fechado e num sistema fechado não resta alternativa outra que a sua desestruturação. Nesta perspectiva, a desestruturação do campo socialista aparece como o prelúdio da desestruturação mundial que se acelera vertiginosamente.

Este é o momento de crise em que estamos situados. Mas a crise tende a ser resolvida em diversas variantes. Por simples economia de hipóteses e, além disso, para exemplificar a traços largos, nas Cartas esboçam-se duas possibilidades. Por um lado, a variante da entropia dos sistemas fechados e, por outro lado, a variante da abertura de um sistema fechado mercê da ação não natural, mas sim intencional do ser humano. Vejamos a primeira matizada com um certo pictoricismo descritivo.

É altamente provável a consolidação de um império mundial que tenderá a homogeneizar a economia, o Direito, as comunicações, os valores, a língua, os usos e costumes. Um império mundial instrumentalizado pelo capital financeiro internacional que não haverá de reparar sequer nas próprias populações dos centros de decisão. E nessa saturação, o tecido social continuará o seu processo de decomposição. As organizações políticas e sociais, a administração do Estado, serão ocupadas pelos tecnocratas ao serviço de um monstruoso Paraestado que tenderá a disciplinar as populações com medidas cada vez mais restritivas à medida que a decomposição se acentue. O pensamento terá perdido a sua capacidade abstrativa substituído por uma forma de funcionamento analítico e passo a passo segundo o modelo computacional. Ter-se-á perdido a noção de processo e estrutura, resultando disso simples estudos de lingüística e análise formal. A moda, a linguagem e os estilos sociais, a música, a arquitetura, as artes plásticas e a literatura acabarão desestruturadas e, em todo o caso, ver-se-á a mistura de estilos em todos os campos como um grande avanço, tal como ocorreu noutras ocasiões da História com os ecletismos da decadência imperial. Então, a antiga esperança de uniformizar tudo nas mãos de um mesmo poder desvanecer-se-á para sempre. Neste obscurecimento da razão, nesta fadiga dos povos ficará o campo livre para os fanatismos de toda espécie, para a negação da vida, o culto do suicídio, o fundamentalismo descarnado. Já não haverá ciência nem grandes revoluções do pensamento... Só tecnologia que nessa altura será chamada “Ciência”. Ressurgirão os localismos, as lutas étnicas e os povos postergados abalançar-se-ão sobre os centros de decisão num turbilhão em que as macrocidades, anteriormente superpovoadas, ficarão desabitadas. Contínuas guerras civis sacudirão este pobre planeta no qual não desejaremos viver.

Enfim, esta é a parte do conto que se tem repetido em numerosas civilizações que, num dado momento, acreditaram no seu progresso infinito. Todas essas culturas terminaram na dissolução, mas, afortunadamente, quando umas caíram, noutros pontos erigiram—se novos impulsos humanos e, nessa alternância, o velho foi superado pelo novo. É claro que num sistema mundial fechado não sobra espaço para o surgimento de outra civilização, mas sim para uma longa e escura idade média mundial.

Se o que se perspectiva nas cartas com base no modelo explicado é de todo incorreto, não temos razão para nos preocuparmos. Se, ao invés, o processo mecânico das estruturas históricas leva a direção comentada, é hora de se perguntar como pode o ser humano mudar a direção dos acontecimentos. Por sua vez, quem poderia produzir essa formidável mudança de direção senão os povos que são, precisamente, o sujeito da História? Teremos chegado a um estado de maturidade suficiente para compreender que a partir de agora não haverá progresso se não for de todos e para todos? Esta é a segunda hipótese que se explora nas Cartas.

Se encarna nos povos a idéia de que (e é bom repeti-lo) não haverá progresso se não for de todos e para todos, então a luta será clara. No último escalão da desestruturação, na base social, começarão a soprar os novos ventos. Nos bairros, nas comunidades de vizinhos, nos locais de trabalho mais humildes o tecido social começará a se regenerar. Este será, aparentemente, um fenômeno espontâneo. Repetir-se-á no surgimento de múltiplas agrupações de base que formarão os trabalhadores já libertos da tutela das cúpulas sindicais. Aparecerão numerosos agrupamentos políticos, sem organização central, em luta com as organizações políticas cupulares. Começará a discussão em cada fábrica, em cada escritório, em cada empresa. A partir das reivindicações imediatistas, ir-se-á ganhando consciência da situação mais ampla, na qual o trabalho terá mais valor humano que o capital e na qual o risco do trabalho será mais claro que o risco do capital na hora de considerar prioridades. Chegar-se-á facilmente à conclusão de que o lucro da empresa deve ser reinvestido na abertura de novas fontes de trabalho ou derivar para outros setores nos quais a produção continue a aumentar em vez de derivar para franjas especulativas que acabam por engrossar o capital financeiro, que produzem esvaziamento empresarial e que levam à posterior quebra do aparelho produtivo. O empresário começará a dar-se conta de que se converteu em simples empregado do Banco Mundial e que, nesta emergência, o seu aliado natural é o trabalhador. O fermento social começará novamente a ativar-se e desencadear-se-á a luta clara e franca entre o capital especulativo, no seu nítido caráter de força abstrata e desumana, e as forças do trabalho, verdadeira alavanca da transformação do mundo. Começará a compreender-se de uma vez por todas que o progresso não depende da dívida que se contrai junto dos bancos, mas sim que os bancos devem atribuir créditos à empresa sem cobrar juros. E também se tornará claro que não haverá forma de descongestionar a concentração que conduz ao colapso se não é mediante uma redistribuição da riqueza a favor das áreas postergadas. A Democracia real, plebiscitária e direta será uma necessidade porque se quererá sair da agonia da não-participação e da ameaça constante da revolta popular. Os poderes serão reformados porque a estrutura da democracia formal dependente do capital financeiro já terá perdido toda a credibilidade e todo o significado. Este segundo momento de crise apresentar-se-á, sem dúvida, depois de um período de incubação em que os problemas se agravarão. Então, começará essa série de avanços e retrocessos em que cada êxito será multiplicado como efeito de demonstração nos lugares mais remotos graças às comunicações instantâneas. Nem sequer se tratará da conquista dos Estados nacionais, mas sim de uma situação mundial em que se irão multiplicando estes fenômenos sociais antecessores de uma mudança radical na direção dos acontecimentos. Deste modo, em vez do processo desembocar no colapso mecânico tantas vezes repetido, a vontade de mudança e de direção dos povos começará a percorrer o caminho rumo à nação humana universal.

É nesta segunda possibilidade, é nesta segunda alternativa que apostam os humanistas de hoje. Têm demasiada fé no ser humano para crer que tudo terminará estupidamente. E ainda que não se sintam a vanguarda do processo humano, dispõem-se a acompanhar esse processo na medida das suas forças e ali onde estejam posicionados.

Não quero tomar mais tempo a comentar o livro que hoje temos nas nossas mãos. Desejaria somente reconhecer a paciência e a tolerância que vocês mostraram ao seguir esta cansativa exposição.

Edições

Foi publicado em Chile por Virtual Edicciones, 1993; em Argentina por Centaurus Ediciones, 1993; em México por Plaza y Valdés, 1995; em italiano por Multi Image em 1994 e por Multimage em 2000 y 2006; em francés por Editions Références em 2004; en inglés por Latitude Press, 1993.

Traduções

O livro é traduzido para alemão, catalão, finlandês, francês, holandês, inglês, italiano, portugués, russo.

Link

Http://www.silo.net para baixar o texto.

texto completo https://student.dei.uc.pt/~jsilva/movimento/arquivo/cartas/indice.html